No dia três de março de 1953, nascia, em Quintino
Bacaiúva, Arthur Antunes Coimbra. Três de março, data que pode ser confundida
com vinte e cinco de dezembro no calendário rubro negro. Três de março é o dia
em que nasce alguém que iria mudar totalmente a história do Flamengo. Temos as
eras antes e depois de Zico.
Ídolo maior, do maior clube do Brasil. No meio de tantos
outros ídolos e grandes jogadores que vestiram essa camisa, ele é
indiscutivelmente o mais importante. Nenhum desses “outros” se opõe a isso.
Pelo contrário, compartilham da mesma idolatria que um torcedor comum de
arquibancada.
Cria da base, assumiu desde jovem a responsabilidade da
camisa 10 rubro negra. Jovem que mais parecia um senhor em campo. A camisa, que pesa
toneladas para alguns, caiu sobre ele com peso de uma pena. Sua personalidade
não permitia peso algum, de camisa alguma. Foi assim com a 10 do Flamengo, da
seleção brasileira, Udinese e Kashima. Craque é craque em qualquer lugar.
Falando em seleção, talvez a maior de suas decepções no
futebol. Na mágica seleção de 82, uma das maiores injustiças do futebol (se é
que existe justiça). Em 86, vindo de lesão grave que quase o fez parar de
jogar, saiu como vilão. Naquele fatídico Brasil x França, um pênalti, um
craque, um erro. Zico não conseguiu
conquistar uma Copa do Mundo. Azar da Copa. Azar da taça que não pôde ter
contato com um dos maiores jogadores de todos os tempos.
Um dos maiores do mundo, sim! Para muitos, o melhor
brasileiro pós-Pelé. Para os gringos da sua época de ouro, o Pelé Branco. Seu
currículo, de títulos pessoais e por clubes, não cabe em uma página. Números e
mais números. Maior artilheiro da história do Flamengo e do Maracanã. Jogava de
meia e fez mais de 800 gols na carreira. Desses mais de 800, vários golaços.
Verdadeiras obras de arte.
Jogar sabendo que está representando a paixão de mais de
30 milhões de torcedores não é fácil. Zico é sinônimo de esperança para o
flamenguista. Esperança de dias melhores em campo e fora dele. Esperança de
retomar o lugar que ele mesmo nos colocou um dia, como maior do mundo. Onde tem
Zico, tem apoio da torcida. A nação não duvida dele, nunca duvidou. Sempre
houve um respeito recíproco entre o Galinho e a torcida. Sempre nos exaltou e foi
exaltado por nós.
O Flamengo é tudo pra ele. Ele é parte do Flamengo. A
proporção não se equivale. Nunca, pra ninguém, vai se equivaler. Ninguém já
foi, é ou será maior que o Flamengo. Ele sabe disso. Sua humildade e sua
inteligência o permitem esse discernimento. Sua humildade, porém, não o deixa
ter a completa dimensão do que ele representa para o torcedor do Flamengo.
Infelizmente não o vi jogar e nem tive o prazer, ainda,
de ter o visto pessoalmente. É um grande sonho poder encontrá-lo, dar-lhe uma abraço e dizer o que
ele já deve estar cansado de ouvir: muito obrigado! Obrigado pelo que fez pelo
Flamengo e continua fazendo. Obrigado pela esperança de dias melhores. Obrigado
pelo caráter, personalidade e humildade, que me fazem tê-lo como ídolo não só
no esporte, mas na vida.
Craque com a bola nos pés, o futebol nos dá aos montes.
Craque como você, dentro e fora de campo, com os pés ou com as palavras e
gestos, com valores humanos cada vez mais perdidos nos jogadores de hoje, é
raro.
Zico é rei, é ídolo, é referência, é o Deus da doutrina
rubro negra. A festa para os seus 60 anos promete ser algo jamais visto. Vindo
dessa torcida, para ele, alguém duvida?
Abs, Ricardo Morais.